Canchungo, Guiné-Bissau – 12 de agosto 2021

Aos 17, Bufetar * sabe que tem uma longa jornada pela frente para alcançar o sucesso. O sonho de Bufetar é ganhar uma bolsa para estudar medicina em Portugal. Ele quer se tornar médico por se destacar na escola em Biologia e Química e por querer fazer uma mudança que é realmente necessária na sua comunidade.

“Não estou satisfeito com o sistema de saúde na Guiné-Bissau. Muitos jovens como eu podem morrer de falta de oxigênio durante a hospitalização, os jovens médicos não são devidamente treinados e as clínicas não estão equipadas como deviam. Eu gostaria que os recém-formados pudessem receber formações e oportunidades de emprego mais eficazes. Muitos formados ficam sentados em casa sem fazer nada e acabam por se tornar num fardo para as suas famílias”, diz Bufetar.

“Não há empregos para nós. Conheço algumas pessoas que se formaram no ensino médio ou na universidade e estão em casa sem emprego. Existem poucas oportunidades para nós e, ainda assim, há muito que precisa ser feito. Acredito que muitos dos jovens aqui têm tudo para ajudar. Precisamos de oportunidades para melhorar, crescer académica e profissionalmente para fazer algo frutífero das nossas vidas.”

A maioria dos amigos mais velhos de Bufetar que já se formaram estão hoje desempregados e tentam ganhar a vida com empregos precários trabalhando como pedreiros ou carpinteiros ocasionalmente.

Normalmente, Bufetar tenta equilibrar os seus estudos trabalhando como secretário de um dos grupos de poupança de crédito. Porém, agora que a sua escola está em greve há dois meses, ele decidiu começar o seu próprio negócio. Graças às suas poupanças, conseguiu viajar para Bissau. Lá, um amigo emprestou-lhe uma motobomba que ele usa para lavar carros, bicicletas ou motorizadas. Esse dinheiro extra vai para as suas poupanças e permite-lhe ajudar a sua mãe, Segunda.

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Segunda frequenta as aulas de alfabetização e o grupo de poupança de crédito criado pelo programa SOS de fortalecimento familiar em Canchungo. Ela nunca tinha ido à escola antes ou desempenhado um papel ativo na liderança da família. O seu marido, de idade já avançada perdeu a maior parte da visão, não podendo fazer muito pela família de onze.

“Este programa ensinou-me a soletrar, a escrever o meu nome, como ganhar e poupar dinheiro. Eu sinto-me mais empoderada e confiante. Sei que posso servir de exemplo para minhas filhas. Encorajo-as a estudar, a trabalhar e tornarem -se independentes, para que possam sustentar os filhos e não depender dos maridos para viver, confessa Segunda.

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A mãe de Bufetar incentiva-o a trabalhar mais e a não desistir do seu sonho de se tornar médico. Ela elogia a sua determinação. Com a máquina que comprou com as suas economias, os trabalhadores de campo estão sempre em contacto com ele; eles mantêm um relacionamento próximo e aconselham-no sempre sobre o seu futuro. Ele admira-os e mantém-se focado”, declara esperançosa.

*Nome alterado para proteger a privacidade da criança.

*Texto e fotos por Elca Cardoso Pereira